terça-feira, 13 de abril de 2010

Desabafos


A minha mãe, sempre tão preocupada com as filhotas, não consegue entender o porquê da filha trabalhar várias vezes das 8h às 23h30 ou das 16h às 08h30. Não percebe porque um dia entra a uma hora e noutro dia a outra. Não consegue bem entender porque a filha trabalha na tarde e na noite de natal, todo o dia de Páscoa, vários feriados e aproximadamente três fins de semana por mês, quando não são quatro. Não percebe a dificuldade em tirar férias no verão, principalmente em Agosto. Não gosta das dores musculares e das olheiras e das horas tiradas de sono constantemente ao longo dos dias. Não gosta que a filha tenha que ir em turnos que não eram previstos porque alguém adoeceu e por muito que seja pouco, com menos de dois não funciona mesmo. Não acha que seja vida para alguém e acha sempre que os outros serviços são mais leves, que os colegas trabalham menos, que devia ir para outro sítio, que o chefe é mau e por aí fora. Nada disso é necessariamente verdade. E não percebe mais umas quantas coisas...
Como um dos meus senhores me dizia noutro dia, só entende o que é quem o é realmente, quem está na instituição (e mesmo assim, só às vezes!) e quem tem um em casa...
Não me queixo, não mudava, não escolhia outra coisa. É bom, muito bom. Mas às vezes, o fraco reconhecimento faz pensar. Como um colega também me dizia noutro dia, sabemos muito mas poucos querem saber do que sabemos. É uma pena. A centralização no que verdadeiramente deveríamos estar centrados, na pessoa, por parte de toda a equipa multidisciplinar em conjunto, em equipa, é uma irrealidade. Um salário justo é uma irrealidade. Condições dignas igualmente. E por aí fora.

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